junho 13, 2009

Sobre o amor

Houve uma época em que eu pensava que as pessoas deviam ter um gatilho na garganta:quando pronunciasse - eu te amo -,mentindo,o gatilho disparava e elas explodiam.Era uma defesa intolerante contra os levianos e que refletia sem dúvida uma enorme insegurança de seu inventor.Insegurança e inexperiência.Com o passar do tempo a idéia foi abandonada,a vida revelou-me sua complexidade,suas nuanças. Aprendi que não é tão fácil dizer eu te amo sem pelo menos achar que ama, e quando a pessoa mente,a outra percebe,e se não percebe é por que não quer perceber, isto é: quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo sabendo que é mentira.O mentiroso nesses casos, não merece punição nenhuma.
Pois aí já se vê como esse negócio de amor é complicado e de contornos imprecisos. Pode-se dizer no entanto, que o amor é um sentimento radical - falo do amor paixão - e é isso que aumenta a complicação.Como pode uma coisa ambígua e duvidosa ganhar a fúria das tempestades?
O próprio da vida burguesa não é o amor,é o casamento.O casamento é um contrato:duas pessoas se conhecem, se gostam, se sentem atraídas uma pela outra e decidem viver juntas. Isso poderia ser uma coisa simples, mas não é. Por maior que seja a paixão inicial, o impulso que os levou à pretoria ou ao altar (ou ambos), a simples assinatura do contrato já muda tudo. Com o casamento o amor sai do marginalismo, da atmosfera romântica que o envolvia para entrar nos trilhos da institucionalidade.Torna-se grave. Agora é construir um lar, gerar filhos, criá-los , educá-los, até que adultos abandonem a casa para fazer sua própria vida. Ou seja: se corre tudo bem, corre tudo mal. Mas não radicalizemos :há exceções - e dessas exceções vive a nossa irrenunciável esperança.
Conheci uma mulher que costumava dizer:não há amor que resista ao tanque de lavar. As vezes o sonho vem, baixa das nuvens e pousa aos teus pés um candelabro cintilante.Dura uma tarde?Uma semana?Um mês?Pode durar um ano, dois até, desde que as dificuldades sejam de proporção suficiente para manter vivo o desafio e não tão duras que acovardem os amantes. Para isso,o fundamental é saber que tudo vai acabar.O verdadeiro amor é suicida. O amor para atingir a ignição máxima, a entrega total, deve estar condenado:a coinciência da precariedade da relação possibilita mergulhar nela de corpo e alma, vivê-la enquanto morre e morrê-la enquanto vive, como numa desvairada montanha-russa, até que de repente acaba. E é necessário que acabe como começou, de golpe,cortado rente na carne, entre soluços, querendo e não querendo que acabe, pois o espirito humano não suporta tanta realidade, como falou um poeta maior. E enxugados os olhos, aberta a janela, lá estão as mesmas nuvens rolando lentas e sem barulho pelo céu deserto de anjos. O alívio se confude com o vazio, e você agora prefere morrer. A barra é pesada. Mais dia menos dia toda lembrança se apaga e te surpreendes gargalhando, a vida vibrando outra vez, nova, na garganta, sem culpa nem desculpa. E chegas a pensar: quantas manhãs como esta perdi burramente! O amor é uma doença como outra qualquer.
E é verdade .Uma doença ou pelo menos uma anormalidade. Como pode acontecer que, subitamente num mundo cheio de de pessoas,alguém meta na cabeça que só existe fulano ou fulana, que é impossível viver sem essa pessoa? E reparando bem, tirando o rosto que era lindo, o corpo não era lá essas coisas...na cama era regular, mas no papo um saco, e mentia, dizia tolices,e pensar que quase morro!...
Isso digo agora, comendo um bife com fritas diante do espetáculo vesperal dos cúmulos e nimbos. Em paz com a vida. Ou não.

2 comentários:

  1. O amor de fato é sim uma doença,com começo meio e sem fim.Todos mesmo sem querer estão vulneraveis...
    O amor nos tornam melhores e piores,tem tanta força que tem o poder de nos modificar...
    Mas quando pensamos que é o fim em um noite no dia que amnhace tudo muda e percebemos ,que tudo passou é só querer,as lembranças continuam mas avida tambem...

    Amei o que esta escrito,me deu uma bela lição de vida....

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  2. Me super identifiquei com tudo que disse ...

    será que devemos ser mais frios ...
    será que somos tão tolos ...
    será que nós somos os errados, ou será se são eles ??

    quando nós pensamos que todo está sendo reciproco estamos enganados ...
    fazemos de tudo para estar com essa pessoa, pensando que ela faria o mesmo por você ...
    mas ai vemos que nosso relacionamento não é tão intenso quanto pensavamos ...

    é triste?
    sim ! é!

    mas devemos nos desligar o mais cedo possivél ...

    O Amoe eh uma dádiva ...!

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